quinta-feira, 14 de julho de 2011

NEOJURÍDICOS SERÃO E DEVERÃO SER O FUTURO DO DIREITO

"A grande crueldade é que quanto mais você acumula conhecimento sobre algo, mais difícil de torna partilhar aquilo que se sabe."
(Dan Heath)

Sabe aquela sensação indescritível que invade nosso ser, por meio de cargas maciças de adrenalina, quando ganhamos uma causa complexa, redigimos "aquele" parecer excelente ou criamos uma tese inédita? Pois bem. Esse resultado é fruto das inúmeras escolhas conscientes que fazemos durante toda nossa vida, que fortalecem nossas habilidades, ampliam nossa criatividade e alargam nossa experiência. O pilar de um profissional do Direito que deseja alcançar sucesso reside na sua capacidade de combinar diferentes habilidades e conhecimentos, aplicando-as em favor de seu cliente, de sua equipe e de si mesmo.

Assim como um tribunal ou departamento jurídico, um escritório de advocacia é a soma das dezenas de mentes que dele fazem parte (sócios, advogados, estagiários e staff administrativo) que acaba por formar uma identidade, uma força, uma enorme capacidade de gerar e processar informações, visando solucionar os casos que lhe são confiados.

Os tempos de `corta-cola-copia' e Google acabaram afastando boa parte da população jurídica do bom hábito da leitura, do aprendizado, da pesquisa e dos relacionamentos. Nossa proposta vem para banir esse modelo e trazer de volta o desenvolvimento mental que nos faça profissionais melhores: os `neurojurídicos'.

A prosperidade, no meio jurídico, está diretamente ligada aos cérebros que compõem a banca, o tribunal ou o departamento. Quanto maior for a interconexão e inter-relação entre as pessoas, num verdadeiro trabalho colaborativo de equipe, maior e melhor será o resultado final. Como afirmava Benjamin Franklin, devemos nos agarrar uns aos outros ou, certamente, acabaremos agarrados em nós mesmos.

O conceito de `neurojurídicos' foi inspirado no pensamento do psicólogo Howard Gardner, sobre as cinco mentes do futuro: a sintetizadora, a disciplinadora, a criativa, a respeitosa e a ética. Gardner aponta como exemplo da mente disciplinária é o pianista Vladimir Horowitz, por sua excelência técnica. Já o biólogo e paleontólogo Stephen Jay Gould era uma mente sintetizadora. A escritora Virginia Woolf era uma mente criativa. O presidente Jimmy Carter é uma mente respeitosa. Finalmente, Nelson Mandela é uma mente ética.

As cinco mentes do futuro, segundo Howard Gardner:

- Mente Disciplinária: Ser organizado, dominar plenamente o conhecimento disponível no foco de sua carreira, eleger o tempo para aprender, ensinar sempre que possível e aperfeiçoar suas habilidades continuamente são características de uma mente disciplinada. Ao traçar metas para a carreira e esboçar um plano de futuro e procurar cumprir a risca seus objetivos são forças de grande impacto em sua vida. O contrário disto significa perda de energia. Acumular conhecimento não basta. Dominar o Direito de maneira ampla, mas pensar como um especialista. Agir de maneira disciplinada e colocar em prática as idéias é que o único caminho para sua carreira começar a se abrir.

- Mente Sintetizadora: Significa agrupar blocos distintos de conhecimento de uma maneira produtiva. Em uma sociedade de alta velocidade (e consumo de informação), o poder de separar o `joio do trigo', sintetizar enormes teorias do Direito em frases diretas, simples e objetivas, incorporando novas descobertas no setor em que atue somada a habilidade de transmitir e irradiar sabedoria sintetizada é uma habilidade fundamental para um profissional que deseja permanecer atualizado.

- Mente Criativa: Ao unir a mente disciplinada (capacidade de organizar as idéias) e da mente sintetizadora (capacidade de simplificar conceitos complexos e abstratos) surge, com grande potência, a mente criadora. A provocação de um tema de diferentes origens são ingredientes para a inovação gerada por uma mente criativa. Ela é capaz de provocar idéias únicas e originais para a solução de problemas, na busca por temas e teses diferenciadas. Como já afirmou certa feita Seely Brown, "crio, logo existo".

- Mente Respeitosa: A tendência de quem acumula grande conhecimento sobre determinada matéria é falar muito mais do que escutar. Isto acontece pela inevitável necessidade de transmitir o que se sabe. Porém o respeito se dá quando também aprendemos a ouvir: o cliente, as partes contrárias, o juiz e assim por diante. A vida é feita de relações, segundo a segundo. O respeito pelos outros é uma incrível característica dos sábios, grandes professores e dos homens e mulheres de alta reputação. Adicionar a mente respeitosa às demais é estar adiante de seu tempo.

- Mente Ética: A construção da reputação no mundo jurídico passa necessariamente pela ética, um artigo que curiosamente tem forçosamente se tornado mais, digamos, `flexível'. A ética, neste contexto que estamos abordando, traduz as posturas que o profissional tem para com os outros, para com o sistema jurídico brasileiro, para com sua família, sociedade e para com o planeta. Pode parecer abstrato, mas não é. Posturas são tangíveis e, por isso mesmo, percebidas pelos outros. Enfim, a pergunta é: qual a minha responsabilidade na construção desse mundo? A resposta para uma pergunta tão abrangente como essa, está dentro de cada um de nós e isso consequentemente influenciará em tudo o que se passa ao redor.

Estabelecer as conexões entre nossas cinco mentes deve ser o maior desafio de um profissional do Direito durante sua carreira. Um belo desafio, diga-se de passagem. Um bom profissional reflete sobre o que foi feito nos últimos tempos e tenta visualizar como melhor pode cumprir missões futuras. Um profissional de ponta busca estabelecer novos parâmetros e assim, deixar seu legado para o futuro. O `neurojurídico', ou seja, aquele que usa conscientemente sua capacidade de combinar as cinco mentes que Gardner estabeleceu, pode efetivamente mudar sua história pessoal e, por pura conseqüência de ação e reação, mudar o mundo ao seu redor.

Autor Terceiro Desconhecido